top of page
Search

Afinal, o que quer dizer sermos mais humanos?

  • Writer: Andrea Dietrich
    Andrea Dietrich
  • 3 days ago
  • 3 min read


Nos festivais de inovação pelo mundo, incluindo o SXSW 2025, um mantra se repetiu em meio à onda da inteligência artificial: o ser humano precisa ser ainda mais humano. Mas o que significa, na prática, sermos mais humanos?


O problema é que ouvimos muito sobre “o que” precisamos ser e fazer, mas pouco sobre “como” tornar isso tangível. Como isso se traduz no nosso dia a dia, nos nossos trabalhos, nas nossas relações e na forma como lideramos? Segundo os últimos dados do World Economic Forum, sabemos que 92 milhões de funções desaparecerão, mas 170 milhões de novos empregos surgirão. Isso significa que não se trata apenas de adaptação das nossas habilidades ao mercado, mas de uma completa reinvenção. E, nesse ponto, nos deparamos com um obstáculo crítico: nossa incapacidade de lidar com mudanças complexas.


O conceito de Metacrise, trazido por Ernesto van Peborgh, descreve precisamente o momento que estamos vivendo: um colapso sistêmico gerado pela desconexão entre a velocidade das mudanças e nossa capacidade de absorvê-las. A tecnologia evolui exponencialmente, mas nossas mentes e estruturas seguem operando de forma linear.


Os dados confirmam essa dissonância quando vemos que somente 23% dos funcionários se sentem engajados no trabalho, 71% dos gestores seniores consideram as reuniões improdutivas e uma descrente taxa de inovação das indústrias ano após ano. A aceleração exponencial da IA e da automação nos coloca em um ponto crítico: ou evoluímos nossa mentalidade e nossos sistemas ou seremos esmagados pelo colapso da nossa própria inércia.


A resposta para esse desafio está em fortalecer nossas outras inteligências humanas, que vão muito além da tradicional inteligência cognitiva (como a inteligência lógica ou técnica) que a IA não consegue replicar. Essas inteligências nos permitem explorar nosso potencial pleno, não apenas adaptando-nos à IA, mas usando-a para expandir nossa experiência e capacidade de inovação.


  1. Inteligência Social: Conexões Autênticas em um Mundo Automatizado Kasley Killam, especialista em saúde social e autora de “The Art and Science of Connection”, enfatiza que a saúde social é tão crucial quanto a física e a mental para o bem-estar geral. Ela destaca que, embora as redes sociais possam parecer conectar as pessoas, muitas vezes oferecem interações superficiais, comparando-as a “calorias vazias” que não nutrem verdadeiramente as relações humanas. Portanto, cultivar conexões autênticas e significativas é essencial para promover ambientes colaborativos e inovadores.

  2. Inteligência Adaptativa: Ian Beacraft, CEO e Futurista-Chefe da Signal and Cipher, ressalta a importância da adaptabilidade na era da IA. Ele argumenta que, à medida que a IA transforma o local de trabalho, a capacidade de desaprender e reaprender continuamente se torna vital. Profissionais e empresas que desenvolvem essa inteligência conseguem navegar na complexidade e se reinventar constantemente, mantendo-se relevantes em um cenário dinâmico.

  3. Escuta Estratégica: A prática da escuta estratégica vai além da simples recepção de informações. Ela envolve a habilidade de ouvir ativamente, captando nuances não ditas e acessando insights valiosos para gerar soluções criativas. O professor Otto Sharmer nos ensina a Escuta Generativa, abrindo espaços para a verdadeira inovação. Em um mundo onde a comunicação se torna fragmentada pela tecnologia, essa forma de escuta permite que humanos e máquinas coexistam de maneira colaborativa, criando novas oportunidades ao invés de apenas reagir a padrões preexistentes.

  4. Inteligência Criativa: A IA pode gerar novas combinações de ideias, mas ainda não possui a capacidade de pensar de forma verdadeiramente disruptiva. A inteligência criativa envolve a conexão de conceitos inesperados, a intuição e a experimentação – habilidades que nenhuma máquina domina com autenticidade. Grandes inovações surgem da capacidade humana de desafiar normas, questionar pressupostos e imaginar cenários totalmente novos.

  5. Inteligência Estratégica: O que nos torna humanos não é apenas a capacidade de executar tarefas, mas a busca por sentido e impacto. A inteligência estratégica nos permite refletir sobre as consequências de nossas ações, tomar decisões baseadas em valores e construir legados que vão além da eficiência produtiva. Enquanto a IA pode otimizar processos, somente os humanos podem definir o que realmente importa.

  6. Isso sem falar da Inteligência Espiritual, mas não no viés religioso, e sim como a capacidade de encontrar propósito, significado e valores profundos em meio à transformação digital. Grandes pensadores já indicavam que, sem uma âncora emocional e existencial, a tecnologia pode nos acelerar para o vazio.


O que muda no nosso dia a dia quando falamos em sermos mais humanos num mundo automatizável? Mudam as conversas, a forma como lideramos, o jeito como nos relacionamos e até como tomamos decisões. Mudamos do “fazer mais rápido” para o “fazer melhor”. Do “controlar processos” para “criar experiências”. Da “produtividade a qualquer custo” para o “crescimento sustentável e humano”.

A tecnologia está aqui para amplificar o que somos. Se queremos ser mais relevantes do que nunca precisamos potencializar o que nos faz únicos, sentir, imaginar e transformar. E esse, talvez, seja o verdadeiro significado de sermos mais humanos na era da IA.

 
 
 

Comments


São Paulo, State of São Paulo, Brazil

  • LinkedIn
  • Twitter

©2016 by Didietrich Consultoria. Proudly created with Wix.com

bottom of page